Vida na Praça

A cidade que a gente quer? A gente tem de fazer!

Você gostaria de morar em uma cidade mais humana, mais cheia de verde, com praças e parques bacanas para brincar? Para inspirar a todos na construção desse desejo, a partir desta semana, publicaremos uma série de posts com histórias e dicas produzidas pelo Movimento Boa Praça, parceiro do Programa Criança e Natureza.

O Boa Praça atua em São Paulo desde 2008, com o objetivo de mobilizar cidadãos, poder público, instituições e empresas para ocupar e revitalizar as praças e espaços públicos da cidade. Promovendo articulação comunitária, piqueniques, revitalizações, consultorias e reformas, eles já viveram muitas histórias.

Agora vamos contar aqui, de um jeito bem prático, como foram algumas delas e como você pode trilhar esse caminho também. Assim todos viramos parte da solução para uma cidade mais humana, com praças verdes e cheias de brincadeiras.

Venha com a gente para a #vidanapraça!

As praças de todas as cidades são frequentadas por pessoas muito diferentes: vizinhos da localidade, moradores de rua, jovens, idosos, crianças, mulheres e homens… Essa diversidade de gente, em alguns casos, distancia mais do que aproxima as pessoas.

Muitos dizem: “Ah, para que melhorar o lugar? A molecada e os desocupados vão destruir tudo de novo!”. Porém, não é o que temos visto nestes anos todos de atuação do Movimento Boa Praça. Quando o processo de revitalização se faz entre todos, o resultado pode surpreender.

Em vários mutirões que fizemos, a pluralidade entre as pessoas ajudou e muito! Alguns chegaram a dizer: “Eu quero que a praça fique melhor, É do meu interesse, eu passo um tempão aqui…”. Talvez este seja um bom momento para se aproximar e conversar com quem é diferente de nós, com quem tem outras necessidades, e encontrar maneiras de conviver pacificamente, em vez de simplesmente querer que as pessoas “sumam dali” para outras poderem entrar.

Será que em um espaço público não pode caber todo mundo? Não é justamente esse o seu papel principal: acolhimento, inclusão, possibilidade de conhecer, conversar, criar consenso com o diferente? A gente acredita que sim! Então, vamos juntos para mais #vidanapraça!

A praça tem muito lixo, a calçada está suja, o mato cresceu. Quando um local vai sendo deixado de lado, esquecido e com pouco cuidado, a tendência é que o descaso cresça. Mas a boa notícia é que a recíproca também é verdadeira: se começa a ser cuidado, haverá outras mãos dispostas a fazer. E, com o tempo, o cuidado com o espaço público torna-se um hábito!

Não acredita? Nós já fizemos a prova! Cansados da sujeira na calçada, pegamos uma vassoura e começamos a varrer. Em alguns minutos, a vizinha puxou papo. Logo mais, estava com sua vassoura em punho também. E depois mais uma. E outra. Pronto! Serviço feito. O mesmo aconteceu quando oferecemos sacos para recolher o lixo da praça: com certeza alguém vai ajudar. Com perseverança, as coisas começam a mudar. E o bom é que você vai conhecer gente bem bacana durante o processo!

Cuidar e ver o resultado – coletivamente – é contagiante! Vá sozinho ou junte uma galera e dê o primeiro passo, ou melhor, a primeira varrida! Mãos a obra e vida na praça!

Piquenique rolando numa manhã de sol. A praça ocupada, com crianças brincando, pessoas conversando, nada demais. Mas algum vizinho, ‘desacostumado’ com aquele movimento todo, resolver chamar a polícia que, ao chegar, pergunta “Quem é o responsável?”

Isso já aconteceu, em piqueniques do Movimento Boa Praça. Alguém chamou a polícia alegando que fazíamos “arruaça” na praça. Detalhe: os piqueniques começam às 10 da manhã, não havia som amplificado de nenhum tipo e se tratava de um punhado de famílias com crianças!

Como lidar com esse tipo de situação? A legislação muda de município para município. Em São Paulo, onde estávamos, você não precisa notificar a prefeitura nem pedir autorização para eventos que reúnam até 250 pessoas em um espaço público (não chagávamos nem perto disso!). Com mais de 250 pessoas, o poder público precisa ser avisado para avaliar impacto que isso trará ao trânsito e considerar a segurança.

Portanto, se você organizar um piquenique, aniversário ou qualquer outra reunião pequena, durante o dia, sem ultrapassar o nível de barulho previsto para o horário, em um espaço público, a lei está do seu lado. Por mais que a polícia seja acionada, ela não tem o direito de tirar ninguém do local ou encerrar a atividade. Nem é necessário que um responsável se identifique.

Praças são públicas e as pessoas podem se reunir nelas. Algum vizinho se incomodou? Chame-o para a farra ou tente conversar, mas ele não pode interferir. Sem dúvida, a vida lá fora faz um bem danado para todo mundo!

As pessoas não vão às praças por que elas estão mal-cuidadas ou elas estão mal-cuidadas por que as pessoas não vão? Só existe um jeito de quebrar esse eterno dilema: começar a frequentar os lugares. Mesmo que estejam sujos, inadequados, precisando manutenção. Só quando você está em um lugar, quando vivencia sua geografia e seus contornos, quando começa a agir para melhorá-lo, é que consegue entender o que falta, o que sobra e o que precisa mudar.

Para melhorar uma praça, um parque, um espaço, antes de mais nada é preciso ficar por ali um tempo. Sentir o que é gostoso e o que não é, conversar com quem frequenta ou pode vir a frequentar e encontrar possibilidades, alternativas. É preciso entender qual é a vocação daquele local. Porque não adianta querer fazer uma pista de corrida ou uma quadra em uma pirambeira, nem um lugar para se sentar onde só bate o sol… O que cabe na sua praça? Pensa aí, chama  vizinhança e coloca tudo em prática!

Você pode estar muito bem sozinho, obrigado. Você pode ter amigos suficientes. Ok! Mas um vizinho é alguém diferente. É alguém que está por perto. E que pode ajudar em uma emergência. Alguém que vive os mesmos problemas e vantagens que você, porque está no mesmo bairro. Que pode ajudar a pensar e melhorar o lugar.

É alguém que ajuda a formar, junto com muitos outros, uma rede de proteção segurança. Pense por um minuto: você se sentiria mais seguro de deixar o seu filho ir sozinho até a padaria se ele não conhecesse ninguém ou se você soubesse que ele conhece várias pessoas no caminho que podem ajuda-lo em uma eventualidade? E se ocorrer algo, quem você acha que chega antes: a polícia ou seu vizinho?

Há alguns anos, trocamos o telhado de nossa casa. As telhas antigas teriam de ser retiradas depois das 22hs, por causa da restrição a grandes veículos circularem durante o dia em São Paulo. Eu estava em casa nesse horário, quando o telefone tocou. “Oi, você está em casa?” Era uma vizinha. “Vinha chegando e vi um caminhão parado na frente de sua casa e dois caras descendo. Só queria saber se você estava bem”. Enquanto agradecia e explicava que eram as pessoas que vinham retirar as telhas, a campainha tocou. Minha vizinha foi mais rápida do que tudo!

Se as histórias acima não bastarem, ainda tem o seguinte: vizinhos também emprestam ferramentas, xícaras de açúcar, trazem frutas de suas árvores para dividir, têm filhos com quem seus filhos podem brincar. E podem se tornar grandes amigos!

Quando se trata de arrumar um programa para curtir uma manhã ou tarde ao ar livre, o céu é o limite. Em geral, só de estarem soltas na natureza, as crianças inventam mil brincadeiras. Mas, se quiser garantir uma atividade, aqui vão algumas sugestões que já experimentamos em piqueniques do Movimento Boa Praça: com fantoches e uma caixa grande de papelão, você monta um pequeno teatro. E elas mesmas adoram contar histórias!

Alguém no seu bairro sabe fazer pipas? Que tal ensinar para todo mundo como confeccioná-las e depois soltá-las em um dia de ventania? O mesmo vale para construir um carrinho de rolimã para descer ladeiras.  Quer algo mais simples? Leve cordas, elásticos e giz para a praça. Dá para pular, escalar árvores, desenhar no chão ou fazer uma amarelinha.

Outra boa ideia é fazer um piquenique com jogos. Cada um leva um ou dois de seus preferidos e ensina os outros. Dá para montar algumas mesas com cavaletes e tábuas e as pessoas vão experimentando vários jogos (e conhecendo outros jogadores!). E a diversão maior: se a praça tiver uma ladeira, algumas caixas de papelão vazias servem para deslizar e garantem uma tremenda farra!

Muitas vezes, estamos em um lugar e queremos melhorá-lo, mas não sabemos nem por onde começar. Ou nos parece que é necessário muito dinheiro. Será? A #vidanapraça tem nos ensinado que uma rápida faxina já melhora bastante o visual. Lixeiras, placas informativas, bancos, balanços ou brinquedos também podem ser feitos com muito pouco.

Em volta de uma praça, sempre tem alguém que fez uma reforma recentemente  e pode ter restos de material para doar ou alguém habilidoso com consertos, com madeira, alguém que faz belos desenhos. Em uma praça na cidade de São Paulo, por exemplo, o chão de cimento foi danificado por uma fogueira, meses depois da praça ter sido reformada. Alguns vizinhos desanimaram: “Nossa, mas já?”. Logo alguém lembrou que tinha um vizinho que trabalhava com obras. Ele topou fazer o conserto, e ainda levou toda a criançada para ver misturar o cimento e contar como ele seca melhor.

Que tal ao invés de pensar em ações mirabolantes, o começo não possa ser apenas uma limpeza e uma pintura? Ou colocar um balanço nos galhos de uma árvore? Só com essa mudança, os vizinhos podem começar a olhar a praça de outra forma e enxergar ali, em vez de descaso e sujeira, muitas possibilidades de #vidanapraça!

Já reparou que tem alguns lugares até arrumadinhos, bem cuidados, mas que vivem sempre vazios? E outros, que, mesmo sem tanto conforto, sempre estão cheios de gente? Uma praça, um espaço público, para ser bacana, precisa mais do que grama cortada ou infra estrutura, precisa ter vida, #vidanapraça!

Quando tem crianças para brincar, outras crianças aparecem. Quando tem movimento é divertido ficar olhando, fazer parte. Como descobrir o que funciona ou não?

A primeira dica é: passe um tempo por ali, sinta o lugar. Converse com quem mora por perto, veja o que gostariam de fazer ali. Outra forma, além de melhorar a estrutura e revitalizar o lugar, de mantê-lo vivo é promover atividades. Que tal organizar um dia de exercícios ou caminhada? Uma tarde de jogos? Uma feira de trocas com livros ou brinquedos? Uma roda de leituras ou contação de histórias? Convide as pessoas, junto é sempre mais legal!

Em 2008, quando o Movimento Boa Praça começou, em 2008, as redes sociais não tinham o alcance que têm hoje em dia, não tinha como falar com um bando de gente em um instante. Então, experimentamos de vários jeitos: colamos cartazes, chamamos as pessoas usando um megafone, passamos de bicicleta dando o recado…

No fim, o que mais funcionou foi o tradicional: tocar a campainha! Para isso, era preciso vencer a timidez e ensaiar algumas falas. Descobrimos, depois de várias tentativas, que o mais eficaz era começar dizendo: “Oi, eu sou seu vizinho”. Isso localiza a pessoa geograficamente como alguém próximo e garante que você não vai vender nada, nem catequizar ninguém.

Depois, é só emendar com: “Vim te fazer um convite”, de preferência com um sorriso. Em 90% dos casos, isso faz a pessoa se aproximar e ter disposição para ouvir de que se trata. Aí, é só contar o que você quer fazer, explicar que está tentando melhorar o local onde vocês moram e tornar seu convite irresistível. Dificilmente alguém será contra, todo mundo curte a #vidanapraça!

Tanto o Criança e Natureza, quanto nosso parceiro o Movimento Boa Praça defendem os benefícios da vida ao ar livre, da #vidanapraça. Há muitos relatos de pessoas que ao frequentarem os locais próximos de casa, iniciaram um verdadeiro movimento – ainda que solitário de início – de revitalização destes espaços.

E o que se ouve são boas histórias: crianças brincando em ambientes naturais, famílias e vizinhos que se encontram para ótimas conversas e trocas de experiências, novos amigos, momentos de relaxamento e a sensação de estar fazendo a coisa certa, exercendo a participação cidadã. E claro, a generosidade da natureza: abacates, goiabas, acerolas, limões, amoras, temperos e urucum para fazer pinturas!

A #vidanapraça não é precisa ser difícil, nem complicada. Pelo contrário, é pra ser prazerosa, coletiva e com um pouquinho de esforço e paciência, ainda permite que se colha frutos bons e prazerosos. Vale muito a pena, acredite!

Será que as pessoas destroem os lugares de propósito? Pode ser que algumas sim. Mas, muitas vezes, o que acontece é que esses espaços não as atendem. E, tentando fazê-los funcionar, os equipamentos acabam sendo quebrados… Na praça Paulo Schiesari, na Lapa, em São Paulo, por exemplo, as correntes dos balanços viviam partidas.

Observando e conversando com os meninos que usavam a praça, vimos que o parquinho estava montado para crianças pequenas. Só que a praça fica na frente de uma escola lotada de adolescentes! Conclusão: eles enrolavam os balanços até deixa-los lá em cima, porque queriam usar a trave que os sustentava como um gol para jogar uma bola. E nesse enrola e desenrola, as correntes sempre se quebravam.

A solução era fácil: bastava trocar o balanço por um gol, ou arrumar um campinho para a molecada! Para chegar na solução, é preciso conhecer quem usa o lugar e ouvir suas necessidades.

#vidanapraça é atenção, cuidado, escuta e coletividade! Vamos juntos, sempre!

Este senhor da foto mora em frente a uma praça. Sua filha o trouxe a um piquenique do Movimento Boa Praça, alguns anos atrás. Batendo papo, soubemos que ele, na juventude, tinha sido campeão de xadrez. Claro que logo veio a ideia de convidá-lo para dar uma oficina!

Ele topou e, no piquenique seguinte, levamos alguns tabuleiros e nosso campeão orientou o pessoal. Foi um ótimo jeito de ele passear, tomar um sol e conhecer gente nova, já que tinha acabado de se mudar para o prédio. E um ótimo jeito de a vizinhança acolher o vizinho, aprender e ter uma oficina bacana no piquenique.

Envolta de uma praça, sempre existem muitas sabedorias escondidas. É só conversar para encontra-las! Quer saber algumas outras que já achamos? Uma senhora que faz produtos de limpeza utilizando apenas ervas e substâncias naturais; um jovem que monta minhocários para compostar o lixo orgânico; uma moça que sabe fazer bonecas de pano com retalhos amarrados; gente que sabe contar histórias; que sabe cantar; que sabe ensinar a fazer pipas coloridas, carrinhos de rolimã… Essa lista pode ter o tamanho de um bairro inteiro!

E perto da sua praça, você já descobriu quais são os saberes que existem? Conta pra gente outras experiência sobre a #vidanapraça!

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MANUAL COMO SER UM BOA PRAÇA
Manual com dicas, informações e casos práticos de como revitalizar praças públicas, o que pode ser feito e qual o caminho para torná-las excelentes locais para encontros do Grupo Natureza em Família

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