
17 Oct Pelas pracinhas das Minas Gerais
De um simples blog, o Na Pracinha tornou-se um grande movimento de Belo Horizonte, que incentiva o tempo livre para o brincar na infância e o contato com a natureza
17/10/2017
Por Mariana Sgarioni
Se a história do Na Pracinha virasse um filme, talvez o roteiro pudesse começar assim: as amigas Flavia Pellegrini e Miriam Barreto, fundadoras do movimento, nunca imaginaram a proporção que esta ideia tomaria. Os encontros do Na Pracinha hoje chegam a mobilizar de 300 a 400 famílias. Em julho deste ano, lançaram o guia Beagá pra Brincar, com mais de 100 opções de passeios, entre praças, parques, museus, espaços de convivência, bibliotecas e centros culturais da cidade, reunidos em 144 páginas. “Em nosso caminho, diariamente, há vários espaços com os quais somos familiarizados, mas que não os conhecemos realmente. O casarão com cara de fazenda, a matinha ao lado da faculdade, o parque na beira da serra, o museu junto à praça, a biblioteca do próprio bairro – são inúmeros lugares que precisamos apresentar para nossas crianças, afinal, elas habitam a cidade e precisam conhecê-la.”, diz um trecho do Guia Beagá pra Brincar.
A seguir, Miriam e Flavia contam um pouco sobre o movimento e convidam novos adeptos a saírem explorando os tesouros que suas cidades guardam escondidos.
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Por que é necessário um movimento atual para levar as crianças das grandes cidades para a natureza?
Como surgiu o Na Pracinha?
O Na pracinha surgiu após o nascimento de nossas primeiras filhas. Buscávamos opções de passeios ao ar livre, culturais, por Belo Horizonte e não havia muitos canais de informações a respeito disto. Infelizmente, shopping é um dos destinos mais comuns para os passeios de finais de semana em nossa cidade e não era o destino que nos identificávamos. Decidimos sair explorando a cidade e contar tudo em um blog. Semanalmente, visitamos novos espaços públicos ou culturais na cidade, sempre com o olhar para a criança e divulgamos dicas de passeios em nossa plataforma virtual. O texto é escrito com o enfoque em um passeio a ser realizado pela família, pensando na criança inserida naquele meio e como o lugar está preparado – ou não – para recebê-la.
Sim. Os encontros Na pracinha surgiram do interesse do público leitor em nos acompanhar durante os passeios pela cidade. O primeiro evento reuniu 27 famílias para brincarem na praça Floriano Peixoto. Organizamos eventos por inúmeros parques da capital mineira, com envolvimento de atores sociais (brincantes, artistas, prestadores de serviço) que se identificam com a filosofia do projeto e acreditam ser possível tornar a criança protagonista em nossa cidade. Os eventos são gratuitos, abertos a todos e circulantes pela capital. Realizamos uma média de 2 eventos por mês. A mobilização é feita por intermédio de nossas redes sociais, e reunimos uma média de 300 a 400 famílias pelos espaços da cidade. Em nossos eventos encontramos desde bebês de colo até crianças de 8 anos de idade, em média.
Vocês imaginavam que esta ideia cresceria tanto? Como mobilizar tanta gente?
Nossos leitores se identificam com o nosso propósito e passam a circular por novos espaços, buscar novos endereços e a compartilhar essas informações de forma espontânea. Esse compartilhamento foi crescendo sem que percebêssemos. Nunca imaginávamos a dimensão que esta ideia tomaria. De um blog, o Na pracinha tornou-se um movimento que incentiva o tempo livre para o brincar na infância e o contato com a natureza. Promovemos o resgate da relação família/cidade, a reaproximação com a natureza e a ocupação dos espaços púbicos e culturais através dos nossos eventos brincantes. E agora, tornou-se um guia de passeios pela cidade com crianças também: em julho, lançamos o guia Beagá pra Brincar. Desde 2012, percorremos diversos locais da capital mineira para descobrir opções de passeios em família. Circulamos com nossas crianças em praças, parques, museus, bibliotecas, espaços culturais e pontos turísticos, conhecendo novos lugares ou revisitando muitos outros. Resultado de um financiamento coletivo de sucesso, com a adesão de 645 apoiadores, a obra traz mais de 100 passeios. Além de sugestões de onde ir e o que fazer com as crianças, o livro apresenta reflexões relacionadas à infância, a cidade e a natureza.
O guia foi pensado para atender às crianças que passeiam por Beagá, moradoras ou visitantes. Escolhemos lugares pela nossa experiência, sempre inserindo a criança no contexto. São ambientes onde as famílias se sentem acolhidas. Belo Horizonte é a cidade onde a gente mora. É o nosso quintal.
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