
07 Aug “Longe da cidade, descobri que a natureza é criativa”
A dentista paulistana Cassia Renner Cardoso de Almeida conta como foi sua primeira viagem para a natureza com seus dois filhos, Leticia, de 9 anos, e Caio, 7.
Depoimento concedido a Mariana Sgarioni
07/08/2017
Sempre que estou de folga com as crianças, ou quando as férias começam a se aproximar, fico preocupada. Preciso inventar passeios e brincadeiras com os dois, algo divertido, que não os deixe entediados. Penso sempre em mil brinquedos, atividades, companhias. Moramos em um apartamento em São Paulo e meus filhos tem uma vida urbana – por mais que me esforce para que eles saiam para brincar ao ar livre, isso nem sempre é possível.
Nestas férias de julho, aceitei o convite de uma prima para uma viagem ao Vale do Matutu, próximo a Aiuruoca, em Minas Gerais. Fazia tempo que eu tinha vontade de levar as crianças para uma natureza mais selvagem, intocada, longe das interferências do ser humano. Será que daria certo? Lancei a idéia e meus filhos toparam na hora.
Coloquei as crianças no carro e partimos para nossa aventura. A viagem de carro já é bacana porque
Já quando chegamos na pousada, percebi de cara uma diferença no comportamento dos meus filhos. Eles foram entrando, tomando a iniciativa de partir para a exploração local sozinhos, sem a minha condução. Eles se apropriaram do lugar muito rapidamente. Estranhei no início, pois sobretudo meu filho mais novo costuma ser mais inseguro, me solicitando o tempo todo. Isso não aconteceu. Parecia que não era a primeira vez que eles estavam ali. Foram entrando, explorando a mata, a piscina de água natural. À noite, Caio andou sozinho pela pousada sem medo nenhum, chamando a atenção de todos ao redor. Estávamos com cerca de seis famílias, num total de 13 crianças e 10 adultos, e a viagem durou cinco dias. Fizemos trilhas e as crianças experimentaram uma rotina muito diferente da nossa vida paulistana.
Todos brincavam juntos, e eram crianças de idades muito diferentes. Não havia televisão, computador, tablet, sequer brinquedos. Mas a natureza e a companhia uns dos outros bastavam. Não havia tédio entre eles – e eu não precisava ficar inventando atividades. Eles se divertiam sozinhos.
Nas trilhas, eles andavam longe de mim, independentes, cada um carregando sua mochila, com autonomia. Cada um era responsável por uma coisa: água, lanche, roupas. Letícia andou sozinha a cavalo pela primeira vez; Caio leu seu primeiro livro. E os dois aprenderam a fazer tricô comigo. Foi um momento de total conexão entre nós.
Não houve nenhum dia em que as crianças se sentiram desanimadas ou entediadas. Em nenhum momento eles me chamaram para brincar, pediram para ir embora, ou vieram com a famosa frase: “O que a gente vai fazer agora?”.
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