
12 Apr Os meus, os seus, os nossos: famílias viajam juntas e se unem para cuidar das crianças
Tradutora paulista promove viagens de famílias à natureza e conta como ela propicia uma convivência muito especial: o cuidado coletivo de todas as crianças
Por Mariana Sgarioni
Gabriel Belinky, hoje com 10 anos, com certeza não se lembra. Mas quando ainda era um bebê já escalava as montanhas da Chapada Diamantina agarradinho na mochila da mãe, a tradutora Rosita Belinky, e passava de colo em colo quando era preciso. Bióloga por formação, Rosita tem um caso antigo de amor com a natureza – que começou bem antes de Gabriel nascer.
Todo ano, ela escolhe o destino, a hospedagem, e espalha a ideia por e-mail. Na primeira viagem, em 2011, para Itatiaia, foram cerca de cinco famílias. Um ano depois, quando Rosita estava grávida da segunda filha, Tatiana, o grupo já contava com 31 adultos e cerca de 20 crianças. Em 2016, a turma chegou a 57 adultos e 33 crianças. “O mais legal de juntar toda essa gente foi perceber como a natureza favorece que os adultos cuidem de todas as crianças, não apenas das suas. Além de gerar um sentimento de comunidade, as crianças ficam mais independentes, aprendem a se virar quando estão longe dos seus pais e a confiar em outros adultos próximos”, diz.
Na entrevista a seguir, Rosita conta como vale a pena o esforço de reunir dezenas de famílias na natureza. É preciso de toda uma aldeia para educar uma criança, já dizia um provérbio africano. Quando estão juntos em uma montanha ou trilha, crianças e adultos se protegem e se sentem de fato pertencendo a um mundo que precisa da união de todos nós.
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Por que você teve a idéia de juntar tantas famílias para viajar?
Sempre gostei de passeios com muita gente. Gosto de encontros, de estar junto. Eu nunca parei de viajar, nem quando meu filho mais velho nasceu. Quando ele tinha de 4 para 5 anos subimos o Morro do Couto, em Itatiaia. Nesta viagem tinha muita gente. Percebi o quanto foi gostoso: as crianças não reclamam, se divertem, não ficam cansadas facilmente. Elas querem brincar, andar mais, abrir a trilha. Depois dessa viagem, resolvi que ia chamar um monte de gente pra subir montanha. Disse ao meu marido: “Vamos juntar gente!”
Como você faz?
Por que é tão legal estar junto na natureza?
Eu quero mostrar para as pessoas que é mais bacana estar no mato do que no shopping. Minha filha antes de fazer 4 anos já andava de bicicleta sem rodinha. Não é porque ela teve aula de educação física na escola. É porque ela corre, vive livre, solta. Na natureza a gente observa as famílias mais unidas, os adultos cuidando dos filhos dos outros, não apenas dos seus. É um sentimento importante este, do cuidado de todos, da consciência. Ali o ambiente é mais agressivo: tem bicho, buraco, chuva. Quando tem caverna é frio. Nessas trilhas as crianças se descolam dos pais, não ficam perto o tempo todo. Então cuida quem estiver do lado. É muito bacana ver na trilha aquela fila de pais e as crianças passando de colo em colo.
Percebo que todo mundo me cobra na volta, quer fazer a viagem de novo. Esse sentimento de querer voltar já é um efeito positivo. Os pais ficam muito orgulhosos ao ver seus filhos conseguindo subir uma montanha. E tem o efeito desse cuidado coletivo, que procuramos trazer para a cidade. Tentamos juntar esforços: quem leva todo mundo para a escola, por exemplo? E para a natação? Cada semana é uma família. Eu tenho um carro grande e levo várias crianças, não apenas meus filhos. Criar filhos se torna mais fácil quando todos se sentem responsáveis pelos cuidados de todos.
Confira os lugares visitados por Rosita e seus amigos:
- Parque Nacional de Itatiaia (RJ), com escaladas no Morro do Couto e Prateleiras (para as crianças maiores)
- Brotas (SP)
- Parque Estadual Intervales (Ribeirão Grande – SP), com cavernas e cachoeiras
- PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, Iporanga – SP), com cavernas e cachoeiras