COP26: é possível unir o mundo pelas crianças, pela natureza e pela vida?

Pela primeira vez, vamos participar de uma cúpula do clima. Por que? Para tentar garantir os direitos de crianças e adolescentes diante das mudanças que estão ocorrendo em nosso planeta
Foto tirada do ângulo de cima das mãos de crianças unidas. Embaixo e ao lado das mãos é possível ver o mapa mundi em um gramado.

28 Oct COP26: é possível unir o mundo pelas crianças, pela natureza e pela vida?

Diante da rapidez e da intensidade com que as mudanças do clima vêm acontecendo, uma série de direitos básicos das gerações presentes e futuras estão ameaçados. As crianças e adolescentes, por exemplo, por estarem em desenvolvimento e serem mais vulneráveis, já estão entre as mais atingidas. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos observa que o impacto das mudanças climáticas ameaça o direito à saúde, à vida, à alimentação, à água e saneamento, à educação, à moradia, à cultura e ao desenvolvimento justamente daqueles que menos contribuíram para o aquecimento global, como crianças, adolescentes, populações marginalizadas e povos indígenas. A crise climática é, também, uma crise de direitos humanos, uma crise de justiça.

Entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, o Reino Unido vai sediar a COP26, uma conferência crucial para se chegar a acordos para controlar e mitigar as mudanças climáticas. O encontro será em Glasgow, na Escócia, e o programa Criança e Natureza vai participar com diversas ações – intervenções urbanas, painéis, rodas de conversas. Nossa intenção é chamar atenção para a preservação da natureza e garantir os direitos das crianças a terem um futuro no presente.

O que é a COP?

A COP – Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática da (UNFCCC) -, é um tratado internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como a Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, quando as nações se comprometeram com medidas e obrigações básicas para proteger o meio ambiente. A primeira COP foi realizada em Berlim, na Alemanha, em 1995. Desde então, todos os anos se realiza uma COP – já foram 25 – para revisar o que ficou acordado em anos anteriores e propor, avaliar e estabelecer novas medidas para combater as mudanças climáticas.

O encontro é uma oportunidade da comunidade internacional entrar em um consenso sobre mecanismos aplicáveis globalmente, um dos principais meios de estimular as mudanças necessárias. Atualmente, há dois acordos mundiais resultantes de COPs anteriores, como o Protocolo de Kyoto, de 1997, e o Acordo de Paris, de 2015. Na COP21, em Paris, o Brasil foi um dos países que assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de gases que provocam o efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. A meta conhecida como Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), prevê redução de emissões de 43% até 2030.  

Quem participa?

A COP 26 reunirá mais de 30.000 delegações — incluindo chefes de Estado, especialistas em clima, empresas e ativistas — para estabelecer um plano de ação coordenado que permita cumprir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris: manter o aumento da temperatura global muito abaixo dos 2 °C e avançar para cenários climáticos e energéticos que contribuam para limitá-lo a 1,5 °C. 

Quais os principais temas desta edição?

«Unindo o mundo para enfrentar as mudanças climáticas» é o lema da COP26, que acontece em um momento crucial, marcado pela intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, alagamentos e incêndios florestais. Em fevereiro deste ano, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a COP-26 é “um marco crítico nos esforços para evitar uma catástrofe climática». Nela, todos os países devem apresentar contribuições e propostas mais ambiciosas e rígidas, com metas claras até 2030.

Entre os temas em debate este ano estão:

  • mecanismos que permitam que os países comprem créditos de carbono de outras nações;
  • financiamentos para perdas e danos sofridos por nações mais vulneráveis;
  • cumprimento da meta de investimentos em US$ 100 bilhões para ações voltadas à transição energética;
  • entendimento acerca da importância da valorização da natureza (florestas, ecossistemas e áreas agrícolas), que podem absorver carbono e contribuir para reduzir os impactos climáticos.

 

Mãos de crianças, vistas do ângulo de cima, seguram pequenos globos terrestres feitos de massa de modelar.

As crianças são e serão as mais atingidas pelas mudanças climáticas.

Como o Criança e Natureza participa?

O programa Criança e Natureza, uma iniciativa do Instituto Alana, participa da COP26 com o status de observador, que permite acessar muitas das salas de negociações, submeter manifestações oficiais aos processos de negociação e acompanhar de perto as manifestações dos países durante o evento. “Para nós, é extremamente importante estarmos presentes na COP 26 como organização observadora pela primeira vez. As mudanças climáticas já afetam bilhões de seres humanos, animais e biodiversidade. A poluição do ar, por exemplo, é considerada uma das maiores ameaças à saúde pública, um problema global que afeta em especial as crianças. Por isso, é fundamental fomentar um movimento construtivo, para salvaguardar a saúde das crianças em todo o mundo. Participar dessa conferência é uma oportunidade de proteger as múltiplas infâncias, especialmente as mais vulneráveis”, diz Isabella Henriques, diretora executiva do Instituto Alana. 

O que queremos influenciar com nossas ações?

Queremos enfatizar a necessidade urgente de abordar os efeitos adversos que atingem crianças e adolescentes, bem como incidir para obtermos resultados nas negociações da conferência que preservem os direitos de crianças e adolescentes diante das mudanças climáticas.

Desde julho, o Criança e Natureza, em parceria com a organização Parents For Future tem levado adiante a Campanha Free To Play Outside (LivreParaBrincarLáFora), que dá visibilidade ao problema da poluição do ar utilizando uma Bolha Cinza gigante e convidando famílias a se engajarem em ações por ar limpo para suas crianças em todo o mundo. A bolha apareceu em São Paulo, Boa Vista, Fortaleza, Niterói e, durante a COP, estará em Glasgow, na Escócia. 

Por meio do projeto Justiça Climática, o Criança e Natureza também busca trazer à luz as implicações sociais e humanas das mudanças climáticas. Nesse sentido, lançamos no Brasil, em parceria com a rede de juristas LaClima, o livro “Justiça Climática: esperança, resiliência e a luta por um futuro sustentável”, de Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos

“A COP 26 será um marco decisivo para garantir num futuro muito próximo, de décadas, a nossa vida neste planeta. Aprendemos com a pandemia da Covid-19 a tomar decisões rápidas e investir substancialmente na ciência para nossa saúde pública. É o momento de aplicar a mesma urgência para a crise climática, por nós, mas, especialmente, por nossas crianças, que vão sofrer mais severamente os seus efeitos”, ressalta JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza.