Natureza, brincadeira e cultura nos parques naturalizados

Pátios e entornos escolares se transformam ao receber parques naturalizados na cidade de Caruaru
Criança segurando mudas para plantar em um parque naturalizado.

16 Ago Natureza, brincadeira e cultura nos parques naturalizados

Onde havia solo seco e calor, plantas e sombra. No lugar de tapetes emborrachados e brinquedos de plástico, esteiras de palha, cumbucas de barro, objetos de madeira típicos da cultura popular do agreste. Em vez de brinquedos tradicionais, estruturas construídas com tronco, pedras, plantas e restos de podas que podem ser exploradas pelas crianças de forma mais criativa. Essas foram algumas das transformações iniciadas com a criação de parques naturalizados em espaços escolares e seus entornos na cidade de Caruaru.

O município vem trabalhando na implantação de parques naturalizados, em parceria com o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, e o projeto Urban 95, da Fundação Bernard van Leer, envolvendo as secretarias de Planejamento, de Orçamento e Gestão, de Educação e Esportes (Seduc) e de Serviços Públicos e Sustentabilidade (Sesp). “Queremos desemparedar a infância e aproximar as crianças da natureza. Vamos espalhar isso em nossa rede, a princípio nos CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil) e depois em outras áreas da cidade”, explica o assessor de projetos especiais da prefeitura Swami Lima.

O primeiro piloto foi implantado em dois espaços contíguos ao CMEI Dom Antônio Soares Costa, dentro de um projeto de requalificação e pacificação da prefeitura que incluiu a pintura de guias, a criação de um caminho conectando a creche ao parque, uma quadra e outras melhorias, no bairro Monte Bom Jesus.

Ali, uma equipe trabalhou tanto com as professoras e orientadoras quanto com os funcionários da prefeitura para treiná-los. A ideia foi observar as crianças no espaço, resgatar brincadeiras, levantar materiais disponíveis e conversar para entender, juntos, o que aquele terreno precisava para se transformar em um lugar acolhedor para encontros, aprendizados e brincadeiras.

Criança brinca com uma cesta e esteira de palha, ao ar livre e em um parque naturalizado.

Barro, argila e cestas e esteiras de palha foram elementos essenciais para resgatar a cultura local no parque naturalizado em Caruaru. Foto: Pedro Carranca

“Foi importante ter um tempo de formação com a diretora e as educadoras e retomar com elas vivências de suas próprias infâncias. O pessoal dos Quintas Brincantes, outro dos parceiros no processo, trouxe argila, cumbucas, panelinhas e objetos da cultura popular que foram colocados à disposição das crianças no parque naturalizado, junto com sementes, folhas, gravetos e outros elementos da natureza. Entrar em contato com tudo isso reavivou memórias, ajudou a reafirmar a cultura local, a resgatar a beleza que há no agreste”, conta Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza.

“Quando vimos, tinha secretário produzindo peças de barro para instalar no parque naturalizado, crianças tomando banho com o esguicho que usamos para regar as plantas e funcionários carregando troncos e cavando buracos. Tudo ao mesmo tempo”, diz o consultor Guilherme Blauth, do Jardim das Brincadeiras, que também participa do processo de crianção dos parques naturalizados. 

Crianças brincando ao ar livre em espaço com brinquedos feitos de madeira e bambu.

Pátio naturalizado implantado na CMEI Pinheirão. Foto: Jorge Farias

A partir dessa experiência, outras 10 áreas foram mapeadas para receber melhorias e parques naturalizados. A segunda delas, o CMEI José Pinheiro dos Santos, no bairro de São José, deu o ponto de partida na semana passada, com a criação de uma área naturalizada dentro da escola. Um parque naturalizado maior está planejado para ser instalado no terreno em frente em outubro. E o projeto segue caminhando, com mais cinco áreas que devem começar a se transformar em breve.

“Quando o espaço tem uma proposta, as crianças se organizam, escolhem o que querem fazer e ficam mais tranquilas. Oferecer materiais naturais, como folhas, galhos e sementes, que existem em abundância nos arredores, também trouxe harmonia: ninguém precisava brigar por um único brinquedo”, conta Paula. Um dos meninos que participou do projeto piloto, Vitor, traz em sua fala o envolvimento com a experiência: “A gente plantou essas plantinhas, então, enquanto eu estiver aqui, eu vou cuidar desse ambiente.”