Desafios

O afastamento da criança em relação à natureza e aos ambientes abertos é fruto de muitos fatores que, em nosso entendimento, estão relacionados entre si e são particulares de cada país e cultura.

No Brasil, apesar de nossa rica herança indígena e africana e da riqueza e diversidade natural de nossos territórios, nos últimos anos assistimos a uma crescente desconexão entre a criança e a natureza cujos impactos são profundos.

É importante entender a gênese as e as consequências de cada um desses fatores para que possamos, juntos, descobrir alternativas e oportunidades para mudar o rumo dessa história.

«Criança feliz, feliz a cantar, sem computador e sem celular»

a-vida-alem-das-telasTVs, videogames, tablets, computadores. As crianças de hoje passam boa parte do seu tempo diante dessas telas, numa experiência bidimensional. A natureza é pluridimensional. É imagem, som, perfume, textura, gosto. É estímulo para todos os sentidos. Que as crianças possam viver a experiência do mundo real, que está lá fora ao ar livre.

«Passa, passa, três carros, mais mil querem passar, e tanta criança sem espaço pra brincar»

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As cidades têm cada vez mais carros. As pessoas e a natureza estão perdendo espaço para o asfalto e os veículos motores. É um grande desafio manter e criar áreas nas cidades onde as crianças possam interagir livremente com a natureza, perto de suas casas.

«Jacaré chorou, chorou o dinheiro que gastou»

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As crianças são estimuladas ao consumo cada vez mais cedo. Muito expostas à televisão e a outros meios de comunicação, acabam se convencendo de que legal mesmo é ter um novo brinquedo, aquela versão mais recente do videogame ou a roupa da moda. Mas a natureza oferece tudo isso de graça. A criança que brinca na natureza é autora do seu próprio brincar, inventa seus próprios brinquedos e tem sua criatividade muito estimulada por isso.

«Fui morar numa casinha nhá infestada dá de aventuras»

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Custa muito dinheiro ir para aquela praia deserta na Bahia ou para as montanhas do Paraná, mas a verdade é que, para as crianças, pouco importa se a natureza é um parque nacional distante ou a pracinha onde se pode ir a pé ou de ônibus. Para elas, o que realmente interessa é ter alguma terra com água para brincar e um adulto cuidadoso que a deixe explorar e mostre um prazer espontâneo em estar ao ar livre.

«Subi o morro, escorreguei, caí sentado, mas eu não chorei!»

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Cuidado com o bicho! Não suba na árvore para não cair! Assim você vai se sujar todo de terra! Muitas vezes a natureza é vista pelos adultos como fonte de perigo para suas crianças. A natureza é o lugar em que elas podem conhecer e testar seus próprios limites, aprendendo a conviver com pequenos riscos.

«Não vou lá, não vou lá, não vou lá, tenho medo de apanhar»

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Por causa da sensação de insegurança nas cidades, as crianças tendem a ficar longe dos espaços abertos e estão sempre acompanhadas de um adulto em tudo o que fazem em sua rotina. Assim, são poucas as oportunidades que elas têm de brincarem soltas, de forma não dirigida, e experimentarem o brincar autônomo e espontâneo que caracteriza e liberdade de movimento e de ir e vir.

«Cadê a grama que estava aqui? O asfalto comeu»

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Nas cidades há cada vez menos espaço para as áreas verdes. Parques, jardins, praças e parquinhos são, muitas vezes, cimentados e impermeabilizados. Apesar de isso ser uma conquista da vida contemporânea, acabam sobrando poucas áreas naturais públicas, em casas, prédios e escolas e ficam menos terra, grama, formigas, pauzinhos e folhas para as crianças brincarem.

«Quem me ensinou a nadar, foi o peixinho do mar»

tao-perto-e-tao-longeA natureza é tratada nas escolas como algo distante e por uma ótica que em geral privilegia a transmissão de conteúdos mais do que a experiência e a exposição ao ambiente natural. As crianças sabem o que é aquecimento global, mas não sabem que a bolsa de sementes da maria-sem-vergonha explode quando apertada. É por meio de vivências reais que a criança se desenvolve e aprende a amar e a cuidar da natureza.

«Tic, tac, dia e noite, noite e dia sem brincar»

O cotidiano nas cidades é uma corrida contra o relógio. As famílias, incluindo as crianças, têm seu tempo cronometrado para os afazeres do dia a dia. Mesmo com muita vontade, é um desafio encontrarem tempo livre para passear e brincar.