Oito maneiras reveladoras pelas quais as crianças se beneficiam de experiências na natureza

Criança está agachada em meio a folhas brincando com um galho.

24 maio Oito maneiras reveladoras pelas quais as crianças se beneficiam de experiências na natureza

Processos pedagógicos baseados na natureza impulsionam o desempenho escolar por oito caminhos diferentes –  Christopher Bergland

Ter experiências relacionadas à natureza e incorporar aulas baseadas na natureza às atividades diárias das crianças na escola promove um aprendizado melhor por oito caminhos diferentes, de acordo com um artigo que revisa criticamente recentes pesquisas científicas sobre o tema. O formato de pergunta e resposta no título do artigo sintetiza o foco do estudo e as descobertas dessa revisão sistemática: “As experiências com a natureza promovem o aprendizado? Evidências convergentes de uma relação de causa e efeito.” O artigo foi publicado recentemente no periódico científico Frontiers in Psychology.

Ming Kuo, do Departamento de Recursos Naturais e Ciências Ambientais da University of Illinois, Urbana-Champaign, escreveu e editou o manuscrito dessa revisão com dois coautores: Michael Barnes, do Departamento de Recursos Florestais da University of Minnesota, e Catherine Jordan, do Departamento de Pediatria da mesma universidade e da Children & Nature Network em Minneapolis.

“Até mesmo pequenas exposições à natureza são benéficas. Se você está dentro de casa com uma vista para o quintal e não de cara para a parede, isso faz diferença. Ao mesmo tempo, quanto mais, melhor. Isso é uma das coisas que nos dá mais confiança de que estamos vendo uma verdadeira relação de causa e efeito”, disse Kuo em uma declaração. “Quanto maior a dose de natureza que damos a uma pessoa, maior o efeito que vemos nela.”

Antes de mergulhar nos detalhes dessa revisão sistemática de pesquisas sobre o aprendizado baseado na natureza, é importante notar que, antes de conduzir essa revisão crítica da relação entre natureza e aprendizado, Kuo et al. não acreditavam que as evidências empíricas embasariam a hipótese de que práticas de ensino baseadas na natureza eram mais eficazes do que práticas de ensino tradicionais.

“A intuição de que ‘a natureza é boa para as crianças’ é amplamente apoiada e, mesmo assim, em termos históricos, as evidências que corroboram essa intuição não têm sido convincentes, com um número preocupante de estudos fracos e alegações infladas”, declararam de maneira direta os autores na introdução do artigo. “Agora, no entanto, um impressionante conjunto de trabalhos tem se ampliado, e linhas convergentes de evidências pintam um quadro convincente.”

Podemos destacar que essa análise sistemática não é resultado de Kuo e colegas escolherem seletivamente evidências empíricas para corroborar uma hipótese. Essa revisão crítica do aprendizado baseado na natureza também evita o “problema do arquivo engavetado” (Rosenthal, 1979) de enterrar pesquisas que apresentam resultados nulos.

Em uma declaração, Ming Kuo expressou que ficou surpresa com as descobertas dessa análise. Aparentemente, Kuo esperava que a revisão recente (2019) de sua equipe resultasse em mais perguntas sobre uma possível correlação entre natureza e aprendizado, do que em evidências corriqueiras de uma relação de causa e efeito.

Como explicam os autores: “As experiências com a natureza – desde fazer uma trilha no mato até plantar uma horta na educação infantil ou ter uma aula sobre sapos num pântano – promovem aprendizados? Até recentemente, as alegações superavam as evidências nessa questão. Mas esse campo de estudo amadureceu, não apenas substanciando alegações que antes não eram confirmadas, mas também aprofundando nossa compreensão da relação de causa e efeito entre a natureza e o aprendizado. Centenas de estudos agora se baseiam nessa questão, e as evidências convergentes sugerem fortemente que experiências na natureza estimulam o aprendizado acadêmico, o desenvolvimento pessoal e o cuidado com o meio ambiente.

As pesquisas sobre desenvolvimento pessoal e cuidado com o meio ambiente são convincentes, embora não sejam quantitativas. Relatórios e mais relatórios – de observadores independentes e também dos próprios participantes – indicam mudanças na perseverança, na solução de problemas, no pensamento crítico, na liderança, no trabalho em equipe e na resiliência. De maneira semelhante, mais de cinquenta estudos apontam que a natureza tem um papel fundamental no desenvolvimento do comportamento em prol da conservação ambiental, especialmente cultivando uma conexão emocional com a natureza.”

Conforme mencionado, a revisão crítica das pesquisas sobre aprendizados baseados na natureza de Kuo et al. (2019) identificou oito caminhos distintos pelos quais as experiências com a natureza beneficiam os alunos. No estudo completo, os autores citam múltiplas pesquisas científicas que embasam cada categoria. Na tentativa de manter este artigo conciso, fiz uma curadoria e uma síntese da lista completa de referências citadas pelos autores sob cada categoria, escolhendo exemplos ilustrativos da revisão crítica:

  1. A natureza tem efeitos revitalizantes sobre a atenção: alunos que foram aleatoriamente designados para salas de aula com vista para o verde têm desempenho melhor em testes de concentração do que aqueles designados para uma vista totalmente “construída” ou salas de aula sem janelas (Li e Sullivan, 2016). 
  2. A natureza alivia o estresse: a natureza tem sido relacionada a níveis mais baixos de medições, tanto autorrelatadas quanto fisiológicas, de estresse em crianças (Bell e Dyment, 2008; Chawla, 2015; Wiens et al., 2016).
  3. O contato com a natureza (e os animais) melhora o autocontrole: as formas de autocontrole avaliadas incluem adiamento da gratificação (Faber Taylor et al., 2002) e classificações da hiperatividade pelos pais (Flouri et al., 2014), e os tipos de natureza incluem não apenas o “verde”, mas o contato com cavalos no aprendizado favorecido por animais (Ho et al., 2017). 
  4. A motivação, a alegria e o envolvimento do aluno são melhores em ambientes naturais: a positividadedo aprendizado na natureza parece se espalhar em ondas, como visto no envolvimento dos alunos nas aulas subsequentes dentro de salas convencionais (Kuo et al., 2018a), nas avaliações do currículo, dos materiais e dos recursos do curso (Benfield et al., 2015) e no interesse pela escola em geral (Blair, 2009;Becker et al., 2017), além de níveis mais baixos de absenteísmo crônico (MacNaughton et al., 2017).
  5. O tempo ao ar livre é ligado a níveis mais altos de atividade física e capacidade física: é importante destacar que a capacidade cardiorrespiratória é o componente da capacidade física mais claramente ligado ao desempenho acadêmico (Santana et al., 2017). Além disso, existem algumas indicações de que espaços escolares mais verdes podem acabar com a tendência das crianças a diminuírem as atividades físicas conforme se aproximam da adolescência: em um estudo, meninas com acesso a mais espaços verdes e florestas e meninos com acesso a campos para jogar bola tinham maior tendência a continuar fisicamente ativos conforme cresciam (Pagels et al., 2014).
  6. A natureza pode melhorar o aprendizado oferecendo um contexto mais favorável: ambientes mais verdes são mais calmos e mais silenciosos, promovem relacionamentos mais acolhedores e a combinação de materiais naturais disponíveis e relativa autonomia desperta formas especialmente benéficas de brincar.
  7. Em ambientes de aprendizado mais verdes, os alunos que antes tinham dificuldades em salas de aula tradicionais são mais capazes de se retirar de conflitos e demonstram um melhor autocontrole(Maynard et al., 2013Ruiz-Gallardo et al., 2013Swank et al., 2017).
  8. Ambientes naturais parecem estimular relacionamentos mais calorosos e mais cooperativos: o aprendizado na natureza facilita a cooperaçãoe as relações entre alunos e professores, talvez por oferecer um ambiente mais equilibrado, onde o professor é visto como parceiro de aprendizado (Scott e Colquhoun, 2013).

Esta revisão crítica (Kuo et al., 2019) sobre os benefícios de processos pedagógicos baseados na natureza se encaixa em outro estudo recente (Hardiman et al., 2019) de pesquisadores da Johns Hopkins University, que descobriram que o aprendizado de ciências integrado à arte beneficiava o desempenho acadêmico nas salas de aula do quinto ano.

Juntas, as descobertas pedagógicas mais recentes sugerem que as experiências na natureza e as práticas artísticas são uma combinação vencedora que melhora o desempenho acadêmico e o aprendizado de formas que atualmente são subvalorizadas e subfinanciadas por gestores da educação.

Para saber mais sobre este assunto, veja: “Arts-Integrated Pedagogy May Enhance Academic Learning”, “Kids and Classrooms: Why Environment Matters”, “Why Do Run-Down Schools Trigger Lower Test Scores?”, “Letting Kids Run Wild Could Improve Academic Performance”.

Referência

Ming Kuo, Michael Barnes e Catherine Jordan. “Do Experiences With Nature Promote Learning? Converging Evidence of a Cause-and-Effect Relationship”. Frontiers in Psychology (Publicado pela primeira vez em: 19 de fevereiro de 2019) DOI: 10.3389/fpsyg.2019.00305

Mariale M. Hardiman, Ranjini Mahind John Bull, Deborah T. Carran e Amy Shelton. “The Effects of Arts-Integrated Instruction on Memory for Science Content”. Trends in Neuroscience and Education (Publicado pela primeira vez online: 7 de fevereiro de 2019) DOI: 10.1016/j.tine.2019.02.002