Vamos desenterrar um tesouro?

Praça Horácio Sabino, em São Paulo, ganha parque naturalizado com “sítio arqueológico”
Duas crianças cavam a terra em busca de tesouros escondidos. Uma delas segura uma pedrinha encontrada.

21 dez Vamos desenterrar um tesouro?

Por Carolina Tarrío

A ideia surge olhando um recorte do terreno:

“E se esse pedaço virar uma barricada?”

“Não, parece mais uma escavação arqueológica, vamos enterrar uns tesouros para as crianças procurarem?”

É assim: a partir da observação do ambiente, das brincadeiras que as crianças propõem e dos materiais disponíveis, que os vários elementos do Parque Naturalizado da Praça Horácio Sabino, em São Paulo, vão sendo criados.

Criança pequena brincando com um filtro do sonho pendurado em uma cabana feita de madeira.

Cabana construída por profissionais da Secretária do Verde e do Meio Ambiente

O espaço, implantado pelo programa Criança e Natureza, em parceria com a Associação da Praça Horácio Sabino – PRHOSA e o Cidades.co, contou também com a colaboração da subprefeitura de Pinheiros e da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que participou de uma formação em campo com suas equipes. Os técnicos e profissionais da Secretaria realizaram algumas oficinas e também colocaram a mão na massa, construindo uma cabana estilo canadense, que foi imediatamente ocupada pelas crianças para se abrigar, subir e brincar.

“As crianças trazem ideias e são convidadas a participar, plantar, montar, elas vão sendo acolhidas no processo”, explica o consultor Guilherme Blauth, que junto com Peetsa e Silvano Fernandes na montagem, e Eduardo Massaoky e Carla Ota no paisagismo, liderou os trabalhos. Além de funcionar como processo formativo para as equipes da Secretaria do Verde, e de resultar em um benefício para a cidade, o parque naturalizado utilizou material que, normalmente, seria descartado.

Do departamento de remoção e podas vieram troncos de diferentes tamanhos. Da subprefeitura, pedaços de madeira cortados em placas e também material triturado usado no plantio. Mudas de diferentes espécies, pedaços de bambu e de madeiras cortadas em pedaços menores, além de um pequeno fogão de madeira encomendado a uma artesã, completaram os itens e resultaram em brinquedos, espaços de estar, mobiliário, jardins e caminhos.

Duas crianças, acompanhadas por suas cuidadoras caminham sobre tocos de diferentes alturas que formam um caminho, no parque naturalizado da praça Horácio Sabino, em São Paulo.

Acompanhadas das mães, crianças exploram brinquedo mais baixo, criado especialmente para a primeira infância

Em quatro dias intensos de montagem, entre 8 e 12 de dezembro de 2021, surgiram na parte da praça planejada para acolher o parque naturalizado um jardim de ervas, três brinquedos de equilíbrio, bancos, brinquedos para subir e escorregar, a instalação do fogão com utensílios para que as crianças possam preparar “comidinhas”, ao lado de uma jardim de ervas, além do tal ‘sítio arqueológico’ com tesouros doados pela vizinhança, mencionado no início desta notícia. Várias partes soltas também foram deixadas no local para que as crianças utilizem como sua imaginação mandar.

“Cada parque naturalizado tem as suas características geográficas, tem um envolvimento diferente por parte da comunidade, tem as crianças que somam suas ideias e seu brincar. Isso faz com que se tornem diferentes”, diz Guilherme Blauth. O projeto também contempla crianças de diferentes idades, tendo brinquedos mais baixos e as próprias partes soltas pensadas para a primeira infância, e outros que estimulam o corpo e os movimentos, mais desafiadores, para os mais velhos.

Duas crianças escalando estrutura de madeira apoiada em árvore de galhos baixos.

Crianças brincando no Parque Naturalizado criado na Praça Horácio Sabino, em São Paulo

Em frente a um tronco apoiado numa árvore, que foi instalado justamente para facilitar o acesso a ela, duas meninas conversam:

“Eu não tenho coragem de subir.”

“Por que não? Qualquer coisa é só um tombo!”, responde a amiga.

“Avaliar os riscos e poder testar as habilidades de cada um é algo que faz parte da proposta dos parques naturalizados”, explica Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza. “A ideia é que a criança possa experimentar o espaço e ir aumentando suas conquistas e adaptando o seu brincar na medida de suas possibilidades. Isso gera autocuidado e autonomia.”

Se encontrar um tesouro cavucando a terra não fez parte das suas vivências de infância, corre lá na praça e experimenta ser criança outra vez!

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