Uma cidade pode aproximar as crianças da natureza?

Novos materiais ajudam gestores públicos a implantar parques e pátios escolares naturalizados: uma estratégia de baixo custo que traz benefícios para as crianças, as cidades e o planeta
Pés de criança se equilibram sobre a trave de um brinquedo de madeira

18 Apr Uma cidade pode aproximar as crianças da natureza?

As cidades de Caruaru, Sobral, Jundiaí e Fortaleza são bastante diferentes entre si. O seu tamanho, a população, a geografia, a cultura e até o partido político dos seus prefeitos diferem muito. Mas elas têm algo em comum: são cidades que vêm conseguindo aproximar as crianças da natureza! Como? Todas criaram políticas públicas para naturalizar espaços para crianças e adolescentes, especialmente as praças e os pátios escolares. Elas vêm transformando, também, suas práticas pedagógicas, para que os alunos consigam usufruir desses espaços verdes para brincar e aprender.
Os espaços naturalizados são construídos com elementos como bambu, madeira, água, terra, plantas. Neles, se aproveitam os declives e as características dos terrenos e também elementos da cultura local. Ao utilizar restos de podas de árvores e materiais de que as prefeituras muitas vezes já dispõem, esses espaços conseguem ser implantados com menos custos, revitalizando áreas abandonadas e contribuindo para trazer mais verde para as cidades e mais saúde para as crianças.
Essas transformações contaram com a assessoria do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, que realizou formações com 1084 gestores e técnicos das prefeituras, e articulou projetos pilotos em 7 municípios, em parceria com a Fundação Van Leer, dentro da iniciativa Rede Urban95. A partir desse aprendizado, as prefeituras seguiram sozinhas. Outros 46 espaços naturalizados foram construídos de forma autônoma pelos municípios, completando, no total, 24.877 m2 de área que estão beneficiando 34.000 crianças.
A partir dessas experiências, o Alana lança agora novos materiais para ajudar outras cidades a seguirem esses passos. Trata-se de um Guia para Gestores contando os caminhos para transformar em política pública os Parques Naturalizados, ferramentas para avaliação e monitoramento, tabelas descritivas com mobiliário e estruturas naturais e um modelo de placa de sinalização. Todos os itens estão disponíveis aqui.

As experiências de uma cidade podem ajudar outra

“O novo guia foi estruturado a partir de entrevistas nas quais colhemos as experiências de alguns municípios que já iniciaram essa prática”, conta Paula Mendonça, especialista em educação, natureza e cultura das infâncias. “Pátios e parques naturalizados são soluções baseadas na natureza que podem ser utilizadas como estratégia de adaptação à crise climática. Elas ajudam a manter e criar áreas verdes, e com isso regular a temperatura, prevenir enchentes e conter a poluição. Ao mesmo tempo em que favorecem o desenvolvimento integral das crianças, colaborando com sua saúde física e mental, por propiciar a elas mais contato com a natureza”, diz.

Na cidade de Fortaleza, todas as unidades de educação infantil vêm sendo olhadas de um jeito novo. “Realizamos ciclos formativos com gestores escolares e seminários nas 439 unidades, entre centros de Educação Infantil, creches conveniadas com a prefeitura, Escolas e pré-Escolas”, conta Simone Calandrine, coordenadora de Educação Infantil da secretaria de Educação do município. Eles também fizeram reuniões com arquitetos para que as unidades que fossem ser reformadas ou revistas passassem por um processo de “desconcretar” ou arrancar o concreto, como diz Simone. “Poder brincar ao ar livre, subir numa árvore, traz um resgate da infância que as famílias também passam a valorizar. As crianças não aprendem só com o lado cognitivo. Poder correr, pular, observar a natureza também é um aprendizado. Um aprendizado mais livre e criativo do que dentro de sala de aula”, explica. Por isso, a cidade se prepara para mudar todos os pátios dos centros de educação infantil, a partir de planos elaborados pelas próprias comunidades escolares, com o acompanhamento de arquitetos. “Transformar os ambientes é bem importante, mas as crianças, os educadores e as famílias participarem desses processos e entenderem os propósitos é estruturante para que haja engajamento, para que as mudanças físicas reverberem em um desemparedamento das crianças, em bem estar, e em um currículo que valorize a natureza”, diz Simone.
Neste ano, vai haver eleições municipais. Que tal, na hora de selecionar o seu candidato a prefeito, você prestar atenção naqueles que se importam com as crianças, que têm políticas eficazes para que elas vivam plenamente a infância, um período que passa voando, mas que tem reflexos para a vida toda?